Escrito por:
Lucas Abranches
Arquiteto e Urbanista
A história da urbanização brasileira é também uma história de devastação do meio ambiente, que infelizmente não ficou no passado. Ainda são comuns notícias de crimes ambientais, queimadas e derrubada ilegal de árvores, uma vez que o crescimento urbano é pautado pela supressão de vegetação e avanço sob os territórios naturais. Essa perspectiva de desenvolvimento é mantida por diversos agentes, estruturas legais, práticas econômicas e conceitos sociais, impondo grandes desafios aos gestores urbanos para conciliarem demandas populacionais, sociais e ambientais.
Diante de um desafio tão complexo, é natural a sensação de impotência. Afinal, o que poderíamos fazer para mudar essa situação? Para ajudar a responder essa pergunta podemos analisar metodologias de intervenção que elucidem formas de melhorar o ambiente urbano.
Dentre outras, a evolução da prática urbanística demonstra que pequenas ações podem trazer grandes impactos, como Jaime Lerner destaca em seu famoso livro “Acupuntura urbana”. Lerner foi Arquiteto e Urbanista, Engenheiro Civil e prefeito de Curitiba por três mandatos, onde implementou conceitos inovadores de urbanismo e paisagismo que fizeram da capital uma referência em arborização. A metáfora, Acupuntura urbana, é inspirada na prática milenar chinesa, assumindo que intervenções específicas podem produzir mudanças significativas em diferentes escalas.
Diretamente ligado ao propósito de melhoria do espaço urbano está o conceito de qualidade de vida. Existem várias formas de oferecer e medir tal qualidade à sociedade, contudo, um parâmetro unânime é a arborização urbana. É notório que a presença de árvores nas cidades traz diversos benefícios que vão desde serviços ecossistêmicos (abrigo e alimento para fauna, manutenção da umidade relativa do ar, captura de carbono, produção de oxigênio, entre outros), até questões de bem estar psicológico.
A preocupação com a manutenção da qualidade de vida humana vem sendo discutida há algumas décadas. Desde do surgimento do conceito de Desenvolvimento Sustentável, na década de 1970, diversos debates ocorreram, e planos foram propostos para tentar mitigar os danos causados pela ação humana. Atualmente a Organização das Nações Unidas (ONU) adota, desde a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em setembro de 2015, 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030; são os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Cabe destacar aqueles que envolvem tornar cidades e comunidades mais sustentáveis, que buscam medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos e que visam proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres.
Assim, a resposta para a pergunta colocada anteriormente é: tornar as cidades mais verdes! Quanto mais vegetação inserirmos nas cidades, guiados pelas boas práticas de arquitetura, urbanismo e paisagismo, melhor o ambiente urbano se tornará, podendo sim mudar a situação atual. Além disso, tornar as cidades mais verdes é um meio para garantir que as futuras gerações habitem um espaço urbano saudável e sustentável.